Nascido na freguesia de Mafamude, em Vila Nova de Gaia, a 11 abril de 1892, o escultor e professor José Maria de Sá Lemos era neto de Teixeira Lopes (pai), sendo filho de Adelino Augusto de Sá Lemos e de Emília Teixeira Lopes de Sá Lemos (filha de José Joaquim Teixeira Lopes).
Emília Teixeira Lopes casou com Adelino Sá Lemos, que se especializou na fundição de bronzes, tendo colaborado com os Teixeira Lopes (Pai e Filho) e criado uma empresa de sucesso nesse ramo. De notar que Emília estudou na Academia Portuense de Belas Artes, o que revela a abertura de espírito e modernidade de seu pai, numa época em que era raro as mulheres estudarem no ensino superior. Da sua descendência destaca-se o escultor José Maria Sá Lemos.
‘Cursou Escultura na Escola de Belas Artes do Porto e fez carreira no ensino. Foi professor e diretor da Escola Industrial e Comercial de Vila Nova de Gaia (atual Escola Secundária António Sérgio), diretor da Escola Industrial António Augusto Gonçalves, em Estremoz, entre 1932 e 1945, e lecionou na Escola Industrial Infante D. Henrique, no Porto, a partir de 1945.
Durante os anos em que viveu em Estremoz teve um papel fulcral na recuperação dos Bonecos de Estremoz, então em decadência, ao conseguir que a bonequeira Ana da Silva, conhecida como tia Ana das Peles, transmitisse o seu saber. Este foi depois fixado pelo oleiro mestre Mariano da Conceição (1893-1940) a partir da Olaria Alfacinha (1868-1995), fundada pelo seu avô Caetano Augusto da Conceição.
Com o artista Mariano da Conceição, Sá Lemos concebeu, durante os anos 40, o famoso Presépio de Altar do Figurado em barro de Estremoz, que associa a tradição dos presépios à dos tronos dos santos populares, gerando, assim, uma nova peça que hoje é uma das mais representativas da estética do barro local e do artesanato português em geral.
Em 20 abril de 2015, a Produção de Figurado em Barro de Estremoz foi inscrita no Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial, por proposta do Município de Estremoz, dando assim continuidade ao processo de valorização e salvaguarda deste património encetado pelo escultor gaiense discípulo de António Teixeira Lopes. Finalmente, a 7 dezembro de 2017, a Produção de Figurado em Barro de Estremoz foi inscrita na Lista Representativa do Património Cultural Imaterial da Humanidade’.
Sá Lemos escreveu um pequeno, mas significativo artigo eivado de ternura e admiração pelo seu avô Teixeira Lopes (Pai), que constitui um testemunho essencial de alguém que privou com este e presenciou o seu labor.
José Joaquim Teixeira Lopes (1837-1918), também conhecido como Teixeira Lopes (Pai), dedicou-se desde muito cedo à criação de miniaturas em barro cozido, representando costumes populares que constituíram uma pequena mas significativa área dentre as diversas que a sua multifacetada produção artística abrangeu.
A proliferação de figurinhas e grupos atingiu a dimensão das dezenas e, apostando numa qualidade esculturo/pictórica elevada, conseguiu defrontar e vencer a vasta concorrência que invadia um mercado sôfrego de figuras, mas com limitadas apetências artísticas.
A sua fonte de inspiração principal foi a observação que fez dos costumes, trajes, profissões, personagens típicas, humorísticas ou que desenvolvem atividades lúdicas, de várias regiões do país num quase mapeamento da alma do povo português.
Dirigindo-se ao avô, Sá Lemos escreveu: “Tu, que conhecias até ao ámago os teus modêlos, reproduzia-los conversando com eles, mesmo ausentes, por que os tinhas dentro de ti, no coração: olha aquele “Aguadeiro”, Tanagra popular da saudosa R. do Laranjal, o que te levava a água todos os dias e contigo conversava, aquele que tu curaste de uma grande gripe com uma aplicação de ortigas”.
Fontes documentais:
Sá Lemos, José Maria de – “O Avô, alma de artista – Teixeira Lopes (Pai)” in Boletim Cultural de Gaia, nº 2, Novembro de 1966
Universidade Digital / Gestão de Documentação e Informação, 2017
Créditos de Imagem: José Maria Sá Lemos com Ti Ana das Peles na Escola Industrial António Augusto Gonçalves, 1935(?). In: Guerreiro, Hugo. 2018. Figurado de Estremoz. Produção património imaterial da humanidade. Estremoz/Porto. Edições Afrontamento.pp.30