Assinala-se, hoje, 1 de dezembro, o aniversário de nascimento de Heitor Cramez, artista transmontano de nascimento e portuense de adoção. Nas suas obras destacam-se os retratos e as paisagens, mas foi como professor de desenho que legou um valioso contributo para a renovação do ensino académico.
Heitor Cramez nasceu em Vila Real em 1889, tendo vindo para o Porto em 1905, para frequentar a Escola de Belas Artes, onde teve como professores mais marcantes José de Brito, em Desenho, e Marques de Oliveira, em Pintura. Teve sempre boas classificações e os ensinamentos dos mestres vincaram a sua obra, sobretudo pela correção do desenho.
De entre os companheiros de Escola é de salientar Joaquim Lopes (na imagem ao lado, num retrato de autoria de Heitor Cramez), seu futuro colega na docência da mesma Escola, Diogo de Macedo, grande amigo de toda a vida e que fará parte do grupo de artistas com quem convive em Paris, bem como Armando de Basto. Terminado o curso, ganhou uma bolsa para prosseguir os estudos em Paris, como pensionista do Estado, o que só se concretizou depois de terminada a 1ª Guerra Mundial.
Matriculou-se na Escola de Belas Artes, onde teve como professor Cormon e frequentou o círculo de artistas portugueses que, nos anos 20, se encontravam naquela cidade, alguns dos quais, de regresso a Portugal, iriam ter um papel relevante na renovação do panorama artístico nacional. Foram seus amigos e companheiros de tertúlia artistas como Francisco Franco, Manuel Jardim, Abel Manta, Diogo de Macedo ou Dórdio Gomes. Com este último manteria sempre uma relação de amizade, reforçada mais tarde pela vinda de ambos para o Porto, onde ensinaram na Escola de Belas Artes.
Regressado de Paris, Heitor Cramez foi durante alguns anos professor do Ensino Técnico em Vila Real e, posteriormente, da Escola de Artes Decorativas Soares dos Reis, no Porto, ingressando em 1948 na Escola de Belas Artes desta cidade, como professor de Desenho, lugar que ocupou até ao jubileu em 1959.
Foi, aliás, neste âmbito que o contributo de Cramez para a evolução artística, sobretudo no que diz respeito ao meio portuense, se revelou mais valioso, porque pertenceu a uma geração de professores cuja atividade proporcionou a renovação do ensino académico, formando gerações de novos artistas em moldes mais modernos e com uma maior abertura a novas correntes e formas de expressão.
A obra de Heitor Cramez é variada, mas nela sobressaem os retratos, de cariz intimista, e as paisagens, onde predominam as serranias transmontanas, reflexo das suas raízes de que tanto se orgulhava. A estadia em Paris e o convívio com os artistas já citados não podiam deixar de influenciar a sua obra. Exigente e modesto em relação ao seu trabalho, Heitor Cramez participou em poucas exposições, confinando-se quase exclusivamente ao Porto.
A obra de Heitor Cramez encontra-se sobretudo em coleções particulares, quer em Portugal, quer em França, o que a torna pouca conhecida do grande público.
Morreu em Mira, Coimbra, em 30 de Agosto de 1967.