Chamamo-nos Museus e Monumentos de Portugal
Todos os começos são preciosos. O Museu Nacional Soares dos Reis reabriu em abril de 2023 com uma exposição de longa duração que permite lançar um novo olhar sobre as suas coleções. A Museus e Monumentos de Portugal, E.P.E. emerge publicamente neste primeiro mês de 2024 com a missão de gerir cerca de quatro dezenas de museus, monumentos e palácios, entre eles o renovado Museu Nacional Soares dos Reis. Como é de regra em todas as apresentações, comecemos pelo princípio: o nome.
Com três veneráveis substantivos – Museus, Monumentos, Portugal –, este nome evoca todo um património histórico-cultural cujo valor nenhuma calculadora pode estimar. Mas no nosso nome vivem também duas levíssimas partículas: um “e” e um “de”. A conjunção “e” excede a mera adição – 38 museus, monumentos e palácios, 21 vilas e cidades, 1007 trabalhadores –, oferecendo-se como um desejo de ligação. Ligar é reunir, relacionar, ativar, dar atenção e importância. Cabe-nos pôr em relação os museus, monumentos e palácios, o Laboratório José de Figueiredo, a Coleção de Arte Contemporânea do Estado e a Rede Portuguesa de Museus, fomentando a partilha de conhecimento, o trabalho em rede, a itinerância.
Por seu turno, a preposição “de” sinaliza simultaneamente a origem, a matéria e a pertença dos monumentos, das coleções museológicas, de todos os recursos que integram agora o universo da nova empresa pública. Nenhum destes bens pertence a qualquer um de nós. Portugal é o proprietário. Portugal é o assunto dos nossos museus e monumentos: estes são fundamento inalienável de memória coletiva e identidade nacional. À Museus e Monumentos de Portugal cabe assumir um desígnio nacional: garantir que os portugueses se relacionam com os seus museus e monumentos não apenas como um bem que possuem e guardam, mas também como uma realidade de que usufruem e na qual participam.
Não vou fazer de conta que da designação não consta a sigla E.P.E., Entidade Pública Empresarial. Sabemos que a E.P.E.-ização da gestão do património e da museologia nacional suscita, em alguns quadrantes, esperanças salvíficas; noutros, gera uma funda suspeita. A Museus e Monumentos de Portugal, E.P.E. não é um deus ex machina que vem desatar todos os nós cegos do enredo jurídico-administrativo em que a gestão de museus e monumentos se foi enleando no decurso do tempo. A fórmula E.P.E. revela-se a terapêutica disponível mais adequada, mas não é a panaceia universal, o remédio instantâneo para todas as patologias.
Ao aceitar o desafio para liderar este projeto, o conselho de administração e a sua equipa de dirigentes está plenamente consciente de que são muitas as exigências administrativas, legais, financeiras, organizacionais e patrimoniais a que temos de atender. Reconhecemos que é árduo o que temos entre mãos e que muitas decisões dilemáticas teremos de tomar, mas este é um bom combate, o combate que vale a pena ser travado, pacífica e construtivamente, neste momento crucial da vida dos museus e monumentos de Portugal.
Pedro Sobrado
Presidente da Museus e Monumentos de Portugal, E.P.E.