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David Felismino

Museus, Educação e Investigação

 

O tema do Dia Internacional dos Museus 2024 é Museus, Educação e Investigação, remetendo-nos para duas funções basilares dos museus. Investigação e Educação relacionam-se, convergem e interligam-se para moldar a nossa compreensão e interpretação do mundo. A Investigação alimenta a Educação para que a mesma possa assumir um lugar pertinente. Além de um conhecimento especializado e atualizado, a colaboração contínua entre Investigação e Educação permite aprofundar a visão, a missão e a vocação de cada museu, naquilo que são as suas principais linhas de trabalho, bem como cria condições para a sua existência, nomeadamente na sua dimensão social e de relacionamento com os seus públicos.

 

A nova definição de museu, aprovada pelo ICOM em 2022, sublinha a assunção definitiva do papel dos museus enquanto agentes sociais. Os desafios colocados por esta postura são inúmeros: entre outros, a diversificação dos públicos, a abertura às comunidades, o compromisso com o acesso e a inclusão, a democratização e pluralismo das narrativas, a partilha da autoridade e do conhecimento, a ampliação e variedade programática, a permeabilidade à contemporaneidade, o compromisso e ativismo sociopolíticos.

 

Estas metas obrigam os museus a uma alteração de posicionamento no sentido da sua transformação em espaços dinâmicos e empáticos, de encontro, de inclusão, de partilha, de diálogo e de pensamento crítico. Enquanto lugares de inclusão e diversidade, os museus devem promover valores associados à democracia e à participação cívica, devem ser espaços de encontro e união, contribuindo diretamente para o diálogo intercultural, a coesão social, a saúde e o bem-estar das comunidades locais. A abertura às comunidades, a democratização da cultura, a democracia cultural, a cidadania participativa só são e serão possível através de um compromisso permanente com o acesso e a inclusão, a partilha de autoridade e a permeabilidade à contemporaneidade, materializados em projetos e iniciativas de cocriação.

 

Os desafios colocados pelo presente, como a globalização, a transição digital, a emergência climática, o envelhecimento das sociedades, os fenómenos migratórios, o crescimento e a afirmação de discursos e ideologias segregadores, pondo em causa valores e práticas democráticas há muito adquiridos, impelem os museus a um compromisso ainda maior, do ponto de vista social, com as comunidades que os rodeiam.

 

Em suma, cabe aos museus enfrentar e abraçar os importantes desafios colocados por públicos cada vez mais diversificados e exigentes, e pelas necessidades e requisitos cada vez mais prementes da participação social e cultural. Investigação e Educação devem caminhar em conjunto, respondendo aos desafios do presente e do futuro. Cabe aos museus criar e avançar com instrumentos e metodologias sólidas para incrementar a mediação com a sociedade, não só de dentro para fora, como e sobretudo de fora para dentro, assumindo-se como lugares de efetiva participação cultural, social e cívica. Tudo isto só é possível obviamente mediante a existência de equipas de profissionais qualificados nos museus, criando-se para tal efetivas políticas de formação, recrutamento, valorização das carreiras.

 

Nos últimos anos, o Museu Nacional Soares dos Reis tem vindo paulatinamente a sedimentar, com sucesso, o caminho da diversificação dos seus públicos e da sua abertura às comunidades, transformando-se, cada vez mais, num espaço plural, de diálogo, de partilha e de inclusão, promovendo a criatividade, a participação crítica e o bem-estar de públicos, cada vez mais alargados. Este esforço de transformação num Museu de Pessoas, por Pessoas para Pessoas ganha forma, entre outras, em renovados e atualizados programas expositivos, na promoção de atividades de mediação e numa sólida política de valorização das acessibilidades, nas suas múltiplas vertentes. Que o vasto programa de atividades, pensado para este Dia Internacional e esta Noite dos Museus no Museu Nacional dos Soares dos Reis, com palestras, conversas, visitas e oficinas, seja muito participado, nomeadamente por aqueles que ainda não o conhecem.

 

 

David Felismino
Presidente da Direção do ICOM-Portugal