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Categoria de Coleção: Mobiliário

Os núcleos de mobiliário religioso e civil formam no seu conjunto um arco temporal que se estende do século XVI ao século XX. A coleção inclui alguns exemplares que ilustram ciclos artísticos que notabilizaram o mobiliário português. Integra também peças de origem europeia e outras de produção oriental.

Entre os exemplares de mobiliário português destaca-se o designado estilo nacional, um período de individualização artística situado entre 1675-1725, assim como o mobiliário barroco desenvolvido em Portugal na segunda metade do século XVIII, com materiais e técnicas que igualmente o particulariza. Da passagem do século XVIII para o XIX, do período neoclássico, preserva-se um conjunto de peças criado para os espaços de receção do antigo palácio, que permitem uma rara leitura entre mobiliário e arquitetura, pintura e estuques decorativos.

As peças de origem europeia enquadram-se em movimentos artísticos que apontam para gostos e influências de relevo para o mobiliário nacional.

O conjunto de peças de produção oriental, legado artístico resultante da Expansão Portuguesa e do seu império colonial, proporciona a leitura de um cruzamento de culturas através de objetos luxuosos realizados numa pluralidade de materiais raros e exóticos.

Mesa de biblioteca

Inglaterra (?)

1830

Mogno; latão dourado; 273 litótipos

Ficha de inventário

 

Em 1838 esta mesa pertencia ao Museu de João Allen, no Porto, onde foi descrita.Provavelmente realizada em Inglaterra, no tampo exibia 273 litótipos raros e antigos provindas de Itália, de locais arqueológicos emblemáticos como Herculano, Pompeia e arredores de Roma.A mesa possuía então um catálogo classificativo das diferentes espécies de mármore, que se perdeu, e que estudos classificativos recentes recuperaram.Seguia exemplos precursores de modelos de meados de setecentos, que cumpriam um programa cultural e científico que definiu o Grand Tour, revelando um duplo interesse: o encantamento pelos locais emblemáticos da Antiguidade e o fascínio pelo estudo das ciências naturais.

Par de tremós

Luigi Chiari (atribuído)

1800-1805

Casquinha, mogno e castanho entalhadas e douradas; pinturas a óleo/ tela em medalhão no espelho; mármore negro

Ficha de inventário Tremó 47 Mob MNSR

Ficha de inventário Tremó 48 Mob MNSR

 

Atribuídos ao artista italiano Luigi Chiari, estes tremós terão feito parte do mobiliário criado para a Sala de Música do Palácio das Carrancas.

Luigi Chiari terá trabalhado nos interiores do palácio, desenhando para a Sala de Música um conjunto em estilo neoclássico, seguindo um princípio de harmonia decorativa entre o mobiliário – nomeadamente a talha dos tremós e da mesas e as delicadas figuras a óleo dos espelhos – e os estuques e a pintura com a representação das Bacantes, nos ângulos do teto.

Estojo de faqueiro

Portugal

1750-1755

Pau-santo entalhado; interior revestido a veludo vermelho, espiguilha dourada; escudete em prata cinzelada e repuxada

Ficha de inventário

A progressiva sofisticação de hábitos da vida doméstica, essencialmente na segunda metade do século XVIII, manifesta-se neste tipo de peças de mobiliário civil: exibidos em aparadores na sala de jantar, estes objetos ostentavam no seu interior, expostos na superfície inclinada, os cabos dos talheres em prata. Este exemplar reúne as melhores qualidades técnicas e artísticas do mobiliário barroco do século XVIII: a caixa de superfície ondulada, a talha com vocabulário ornamental barroco, palmetas e minuciosas espécies florais, ao qual foi adicionado um mascarão na fechadura.

Tremó (consola e espelho)

França

1730-1750

Casquinha dourada; pintura a óleo e tela na decoração do espelho; mármore branco

Ficha de inventário

A utilização de um grande espelho entre duas portadas, ao qual podia ser adicionado uma consola, foi uma solução decorativa amplamente usada em França desde os primeiros anos do século XVIII. Foi difundida por toda a Europa para decoração de salas de aparato ou de receção, onde os espelhos de tremós refletiam e ampliavam a luz, conferindo luxo e grandiosidade aos aposentos.
Este exemplar é dominado pela talha dourada com motivos barrocos, vegetalistas e marinhos.

Arca de bragal

Portugal

1750-1775

Madeira, couro lavrado; tecido (damasco) e metais cinzelados (ferro, latão e bronze)

Ficha de inventário

No tampo desta arca, inserida numa cartela, podemos encontrar a cena que determina a função específica deste móvel de guardar, a de conter o enxoval de noivado: um cavalheiro ajoelhado oferece o seu coração a uma dama.
De grande tradição na Península Ibérica, o couro lavrado era um material de prestígio entre as elites, como seria o caso desta noiva pertencente à família dos Vieira e Vasconcelos, cujo brasão de armas encontra-se representado na superfície frontal.
Uma ornamentação densa preenche integralmente o móvel com elementos plenos de naturalismo barroco como concheados, feixes de plumas e outros mais raros como figuras híbridas aladas com saiotes de folhagens e animais fantásticos com cabeça de dragão.

 

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Estante de coro

António de Azevedo Fernandes, Porto

1697

Pau-santo; ferragens em latão dourado; imagem em madeira dourada e policromada

Ficha de inventário

Por encomenda da Madre Mariana de S. Paulo, abadessa do Real Convento de Santa Clara de Vila do Conde esta estante foi destinada ao coro alto da Igreja do convento.

As estantes monumentais de quatro faces encontram-se entre as peças de mobiliário mais prestigiadas da segunda metade do século XVII: de planta poligonal, fiel aos padrões geométricos de quinhentos, assenta em pés em forma de garra, e é executada em pau-santo com grande variedade de aplicações em latão dourado. Coroa a estante uma escultura em vulto, policromada e dourada representando S. Paulo.

Descrição

Estante de coro com 3,5 metros de altura e d e estrutura piramidal, com um suporte de quatro lados para pousar livros de cânticos. Apresenta uma base hexagonal de onde saem volutas volumosas que se apoiam numa das extremidades, num plinto com estrutura poligonal igual à da base. As superfícies de pau-santo têm abundantes guarnições em latão dourado com diferentes aplicações. As composições dos frisos metálicos variam entre motivos de estilização floral, rematados pela flor-de-liz e nos remates dos frisos das volutas surgem botões ou discos. Os pés, em metal, são em forma de garra de ave. O topo remata com a estátua de S. Paulo, escultura de vulto em madeira dourada e policromada, com os atributos do livro e espada.

Esquife

Portugal

Séc. XVII (final)

Pau-santo torneado, latão dourado recortado e vazado, palhinha

Ficha de inventário

 

Este esquife era utilizado para o enterramento das freiras, transportando o corpo até à sua sepultura no Real Convento de Santa Clara de Vila do Conde.
Este tipo de peças era executado pelos ensambladores, integrando materiais e técnicas que definem a primeira fase do Barroco nacional no mobiliário. Caracteriza-se pelo recurso ao pau-santo importado do Brasil, que potenciou o uso de elementos torneados, e pela aplicação de guarnições metálicas em latão dourado, realizadas em composições de grande criatividade, que revelam a influência do mobiliário produzido na Índia.

Púlpito

Portugal

1521-1550

Madeira de carvalho do Norte entalhada; pinho, castanho (?), tola, metais

Ficha de inventário

São muito raros os púlpitos renascentistas em madeira que chegaram até nós. Na longa história desta notável peça, a tradição refere que terá sido utlizada por S. Francisco Xavier em pregações na Índia, enquanto outra tradição aponta que terá pertencido a uma igreja de Vila do Conde.
Encontram-se aqui as características dos móveis portugueses da primeira metade do século XVI coexistindo os ornamentos góticos, como os animais fantásticos de dorso arqueado na base e os pináculos que separam os painéis, com os motivos renascentistas, como grotescos em simetria, motivos vegetalistas, cornucópias e pássaros imaginários.

Contador de mesa

Índia, Guzarate

1570-1580

Teca; folha de ouro; pintura policroma; placas de tartaruga; marfim; cobre dourado

Ficha de inventário

Este pequeno móvel encontra-se revestido por placas de tartaruga com pintura policroma, incluindo no reverso e no interior das nove gavetas.
Peça de grande raridade, interpreta o quotidiano de um casal, um português e a sua mulher na Índia do século XVI. Em diferentes cenas, dispostas em todas as superfícies disponíveis do pequeno móvel, o casal e a família são representados em ambientes idílicos, em jardins, em passeio ou lazer, em atividades de armas e de caça e em cenas de refeição, momento descrito com aparato no tampo do móvel.

Biombos Namban

Japão/ Escola de Kano
Arte Namban, Período Momoyama (c. 1600 – 1610)
Pintura a têmpera sobre papel de amoreira revestido a folha de ouro; grade de madeira lacada

Ficha de inventário Biombo 864 Mob MNSR

Ficha de inventário Biombo 865 Mob MNSR

A presença dos portugueses nos portos do sul do Japão e o contacto com uma nova cultura em finais do século XVI é o tema destes biombos. A composição de grande formato apresenta uma colorida panorâmica sobre um fundo de ouro.
Uma meticulosa representação interpreta os trajes e os símbolos de um lucrativo comércio de produtos de luxo, as sedas, as porcelanas, os pequenos móveis e um elemento poucas vezes retratado, a arca da prata.
No primeiro biombo, destaca-se uma nau, embarcação de grande porte, e o desembarque dos viajantes e suas mercadorias. No segundo biombo mantém-se a narrativa da atividade comercial e documenta, ainda, a presença dos missionários da Companhia de Jesus. Em plano de fundo a missão cristã é assinalada por uma cruz e os portugueses testemunham, exibindo práticas locais, um amplo encontro cultural.