Desde longa data identificada como a representação de uma deusa celtibera, esta estatueta permaneceu um enigma durante mais de 180 anos. A sua configuração e a intrigante inscrição que apresenta na frente, em caracteres não identificados (provavelmente inventados), não são coerentes com o estojo forrado a couro fino vermelho e gravado a ouro, semelhante aos estojos de joias do século XVIII.
Em 2003 o MNSR encetou o que viria a ser um longo processo de documentação e classificação desta peça, apresentando-a a diversos arqueólogos para efeito de estudo, por comparação com 3 outras estatuetas semelhantes entretanto encontradas na Biblioteca Nacional de Portugal (essas associadas a um núcleo do Gabinete de Antiguidades, criado em 1804, na Real Biblioteca Pública da Corte e Reino). Desse desafio acabou por resultar a publicação, em 2020, do estudo Ídolos Prerromanos inventados en el Portugal ilustrado del siglo XVIII de Martin Almagro-Gorbea, no qual se esclarece que a estatueta é afinal um ídolo falso, inspirado em gravuras que representavam antiguidades descobertas no século XVIII. Esta peça é um testemunho do despertar da arqueologia e do colecionismo de antiguidades em Portugal, talvez no círculo esclarecido de estudiosos e amadores reunido em Évora, na esfera de Dom Frei Manuel do Cenáculo.